Adoecimento mental explode após Covid; só em Cersam, procura aumentou 106%
A saúde mental em Belo Horizonte está em crise. Enquanto a capital enfrenta uma escalada do número de atendimentos a pacientes com transtornos psíquicos desde o início da pandemia de Covid-19, a oferta de psiquiatras na rede pública municipal tem encolhido. A procura pelos Centros de Referência em Saúde Mental (Cersams), por exemplo, cresceu 106% em 2022, na comparação com 2019.
Dados da Secretaria Municipal de Saúde apontam que, no mesmo período, houve queda de 10% no total de psiquiatras para os equipamentos de saúde mental em BH. E a tendência de redução continua em 2023 (veja mais no quadro acima). Em nota, a pasta admitiu dificuldade para contratar especialistas.
Na prática, 70 médicos atendem toda a demanda psiquiátrica do Sistema Único de Saúde (SUS) em BH, que inclui consultas em 16 Cersams, 152 postos de saúde, oito consultórios de rua, entre outros equipamentos. Desse total de psiquiatras, 28 estão à disposição dos usuários nos postos, considerados a porta de entrada para o atendimento em saúde mental da rede pública. O ideal seria que cada unidade tivesse, no mínimo, um psiquiatra, calcula Lauro Guirlanda, do Departamento de Psicoterapias da Associação Mineira de Psiquiatria (AMP). “Os transtornos mentais estão aumentando, principalmente após a pandemia, mas os pacientes não conseguem atendimento adequado. Quando o caso se torna mais complexo, que precisa de um psiquiatra, o paciente vai ter dificuldade. É um problema crônico, principalmente em BH”, critica.
Impotência
Mãe de um garoto de 10 anos, com suspeita de autismo, a salgadeira Núbia Botelho, de 38 anos, conhece as consequências dessa escassez.
“Faz mais de dois anos que busco atendimento no posto de saúde do bairro Providência (na região Norte), mas a desculpa que escuto é que vão avaliar ou que a psiquiatra está de licença. Disseram que vão marcar para setembro, mas não recebi nenhum papel. A sensação é de impotência”, desabafa.
Estrutura
Para Lauro Guirlanda, da AMP, a falta de psiquiatras na rede pública está ligada às “más condições de trabalho, baixos salários e falta de estrutura”. A PBH disse que “mantém aberto banco de currículos para contratação imediata”, mas não informou quantas vagas existem nem o salário.
Prefeitura diz que há vagas disponíveis
O psiquiatra Fernando Siqueira, referência técnica da Gerência de Saúde Mental de BH, reconheceu a dificuldade na contratação de psiquiatras. “A gente tem as vagas ofertadas e não conseguimos preencher, por falta de procura dos próprios psiquiatras”, explica. Segundo ele, o ideal seria um profissional para cada três Centros de Saúde – cerca de 50 psiquiatras. “Os quadros que chamamos de transtorno mental comum são mais de 80% dos casos atendidos nos postos de saúde, por médicos generalistas”, diz.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que prevê investir cerca de R$ 41,9 milhões na rede de saúde mental, em 2023, incluindo gastos com estrutura e contratações. O valor é 60% maior do que o injetado no sistema em 2019, antes da pandemia.
Fonte: O tempo