Assim como qualquer outro ex-presidiário, quem obteve a reversão da condenação na Justiça não consegue se livrar do preconceito dos empregadores e da população em geral

Ao sair pelo portão da frente do complexo penitenciário, Thiago Paulino Simões, 36, que abriu essa série de reportagens com a história da prisão indevida por um duplo homicídio, acreditou que teria uma vida nova e livre de preconceitos. Afinal, ele pagou uma dívida nunca existente com a Justiça. Porém, a absolvição em júri popular no tribunal não foi suficiente para blindar o homem do julgamento e do preconceito nas ruas e, até hoje, ele tenta uma recolocação no mercado formal. Ele entrou para a estatística de ex-detentos, presos injustamente ou não, que encontram as portas do mercado de trabalho fechadas em uma eterna luta pela simples sobrevivência.

“É difícil conseguir emprego de carteira assinada. Mesmo inocente, tem sempre aqueles que têm dúvidas quanto à minha absolvição. Então, vivo trabalhando de empreitada na construção civil. Sempre trabalhei assim, mas antes não ficava sem emprego fixo”, conta Thiago.

Atualmente, o servente de pedreiro mora com a mãe Giselda Gonçalves Porto, de 60 anos, e o pai, José Paulino Simões, de 78 anos. Ela trabalha como empregada doméstica, e o marido dela, como zelador para ajudar a pagar as contas da casa humilde onde a família reside. Vivem em um sufoco financeiro que nunca tinham experimentado antes da prisão injusta.

A família tinha criação de animais que complementava a renda. Mas, para pagar advogados e comprovar a inocência do filho, venderam cavalos, cabras e porcos que possuíam. “Quero muito arrumar um emprego melhor, me casar, ter uma família e ficar aqui em Itajubá. Já pensei em me mudar daqui, mas não vou deixar minha família para trás. É necessário manter a cabeça erguida”, diz Thiago.

Apesar da dificuldade financeira, esse não foi o maior preço pago pela família. O que mais dói para os pais do Thiago é o estigma reforçado em olhares de julgamentos na cidade. “Eu era chamado de ‘pai de bandido’ na rua”, se recorda, com tristeza, José. A mulher dele, que carrega a mesma mágoa e marcas na alma, busca na fé a sabedoria para ainda se sentir grata: “Ainda lutamos para nos reerguer, mas o meu filho está livre, e é isso o que importa”.

Fonte: O tempo