Em apenas um ano, a capital teve 197 reclamações de falhas no sistema de elevador para cadeirantes, conforme dados da Superintendência de Mobilidade de BH
“Quase nunca funcionam. Às vezes você consegue entrar, mas durante a viagem eles estragam e não tem como descer”, relata a cadeirante Teresinha Oliveira da Rocha, de 67 anos, que utiliza o transporte coletivo de ônibus diariamente para se deslocar até a Praça Sete, onde trabalha como ambulante.
Conforme Teresinha, além do constrangimento ao qual pessoas com deficiências são submetidas, por causa das falhas no equipamento, elas enfrentam ainda atrasos nas viagens. “Nós temos sofrido com esse descaso. Perdemos o horário do trabalho, consulta médica. A impressão que dá é que a gente denuncia, mas não é ouvido”, relata.
A sensação é a mesma para o ambulante Wagner de Souza, de 47 anos. Na última sexta-feira (11), ele ficou “preso” por cerca de quatro horas no ônibus 814 (Estação São Gabriel/Jardim Vitória) devido a falhas no elevador. O veículo foi autuado pela BHTrans, empresa que gerencia o transporte público na capital, por estar com o elevador travado (em más condições comprometendo a segurança). A Autorização de Tráfego do coletivo foi recolhida, e ele só pode voltar a operar quando o problema for sanado.
“Isso ocorre direto. Enfrento esse tipo de problema quase todos os dias, tanto para sair de casa, como para voltar. Os ônibus têm elevador, mas não funciona”, conta o cadeirante, que utiliza o transporte público para se deslocar para a rua Rio de Janeiro, no Centro de Belo Horizonte, onde trabalha como ambulante.
Problema recorrente
Os dados referentes às falhas no sistema de elevador para cadeirantes correspondem ao período entre o dia 5 de julho de 2022 e o dia 17 do mesmo mês deste ano. A linha 808 Estação São Gabriel / Paulo VI é a que possui o maior número de reclamações, com 16 registros. O ranking segue com as linhas 9214 Caetano Furquim / Havai, com 13, e a 5502C Pousada Santo Antônio, com 11. A infração é classificada como tipo 4, e prevê multa de R$ 885,23.
A prefeitura de Belo Horizonte não informa quantas multas foram aplicadas neste ano para as empresas do transporte coletivo por ônibus devido às irregularidades no sistema de elevador para cadeirantes. A administração municipal afirma, no entanto, que estabelece critérios de qualidade e confiabilidade no sistema, conforme determinado na Lei 11.458/23 e no Decreto 18.370/23, que são referentes ao controle, a gestão e a transparência dos valores arrecadados para a prestação do serviço. “Se os critérios não são atendidos para cada viagem, não há o pagamento da remuneração complementar às concessionárias”, garante a BHTrans.
Para Lecir Magalhães, delegada da Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade (Apabb), uma instituição sem fins lucrativos voltada à inclusão e à qualidade de vida das pessoas com deficiência, os problemas vão além da falta de manutenção e da qualidade dos veículos. “Quem trabalha nos ônibus, muitas das vezes, não sabe como operar o elevador. A pessoa chega na porta de ônibus e não consegue entrar”, denuncia.
A representante aponta que, somado ao despreparo dos profissionais, ainda existem problemas nas estações do Move, nos pontos de ônibus e nas condições dos cintos de segurança que são disponibilizados aos cadeirantes. “O motorista precisa manobrar para ficar próximo da plataforma ou do passeio, estes que são, geralmente, irregulares. As condições dos cintos também não são boas. Parece que não passam por manutenção, não dá para encaixar”, acrescenta.
Lecir acredita que, além da manutenção dos coletivos, do treinamento dos profissionais que trabalham no transporte público e da readequação das estações e dos pontos de ônibus, é necessário realizar uma campanha educativa a fim de conscientizar os demais passageiros sobre a inclusão de pessoas com deficiência no transporte público.
“As pessoas acham que o cadeirante é o responsável pelo atraso na viagem, quando na verdade o problema é do elevador que não passa por manutenção, do passeio que não está adequado. É muito constrangedor passar por isso, então é uma questão que passa também pela educação”, orienta.
Ações de inclusão e acessibilidade
A BHTrans afirma que desenvolve ações para oferecer condições aos usuários do transporte coletivo por ônibus que possuem deficiências. “Os agentes monitoram todos os dias as estações e as linhas, tanto no local, quanto por meio das câmeras do Centro Integrado de Operações de Belo Horizonte”, garante. A empresa, que é responsável pelo planejamento da mobilidade na capital, diz que mantém contato com as empresas do consórcio para realizar correções e ajustes no serviço.
“Todas as grandes estações de integração da capital são dotadas de equipamentos que auxiliam a mobilidade de pessoas com mobilidade reduzida. São elevadores, escadas rolantes, travessias elevadas, rebaixos de calçadas e a presença constante de vigilantes, agentes da Sumob/BHTRANS e Guardas Municipais que podem auxiliar os passageiros todos os dias”, afirma.
O Sindicato das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH), que representa as empresas que fazem parte do consórcio do transporte por ônibus na capital, garante que todos os 2.498 veículos que compõem a frota da capital contam com elevador para pessoas com deficiência. “As manutenções do equipamento são feitas regularmente, de duas em duas semanas. Diariamente eles são testados antes de saírem das garagens”, afirma, em nota.
Saiba quais as 5 linhas de ônibus com mais reclamações sobre falhas no elevador para cadeirantes
- 808 Estação São Gabriel / Paulo VI – 16
- 9214 Caetano Furquim / Havai – 13
- 5502C Pousada Santo Antônio – 11
- 608 Nova Pampulha / Venda Nova – 7
- 814 Estação São Gabriel / Jardim Vitória – 6
Fonte: Superintendência de Mobilidade de Belo Horizonte
Como denunciar irregularidades nos ônibus de Belo Horizonte?
As denúncias podem ser feitas pelo aplicativo PBH APP, pelo WhatsApp (31) 98472-5715 ou no Portal de Serviços. “É fundamental que o usuário informe o número do veículo, data e horário, pois esses dados auxiliam no direcionamento das equipes de fiscalização”, orienta a BHTrans.
Fonte: O Tempo